UMA
EDUCAÇÃO PARA TODOS
O
princípio democrático da educação para todos só se evidencia nos sistemas
educacionais que se especializam em todos os alunos, não apenas em alguns
deles, os alunos com deficiência. A inclusão, como consequência de um ensino de
qualidade para todos os alunos provoca e exige da escola brasileira novos
posicionamentos e é um motivo a mais para que o ensino se modernize e para que
os professores aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação que implica num
esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da maioria de
nossas escolas de nível básico.O motivo que sustenta a luta pela inclusão como
uma nova perspectiva para as pessoas com deficiência é, sem dúvida, a qualidade
de ensino nas escolas públicas e privadas, de modo que se tornem aptas para
responder às necessidades de cada um de seus alunos, de acordo com suas
especificidades, sem cair nas teias da educação especial e suas modalidades de
exclusão.O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola regular
decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir progressos significativos
desses alunos na escolaridade, por meio da adequação das práticas pedagógicas à
diversidade dos aprendizes. E só se consegue atingir esse sucesso, quando a
escola regular assume que as dificuldades de alguns alunos não são apenas
deles, mas resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a
aprendizagem é concebida e avaliada. Pois não apenas as deficientes são
excluídas, mas também as que são pobres, as que não vão às aulas porque
trabalham, as que pertencem a grupos discriminados, as que de tanto repetir
desistiram de estudar.
a
criança precisa da escola para aprender e não para marcar passo ou ser
segregada em classes especiais e atendimentos à parte. A trajetória escolar não
pode ser comparada a um rio perigoso e ameaçador, em cujas águas os alunos
podem afundar. Mas há sistemas organizacionais de ensino que tornam esse
percurso muito difícil de ser vencido, uma verdadeira competição entre a
correnteza do rio e a força dos que querem se manter no seu curso principal.Um
desses sistemas, que muito apropriadamente se denomina "de cascata",
prevê a exclusão de algumas crianças, que têm déficits temporários ou
permanentes e em função dos quais apresentam dificuldades para aprender. Esse
sistema contrapõe-se à melhoria do ensino nas escolas, pois mantém ativo, o
ensino especial, que atende aos alunos que caíram na cascata, por não
conseguirem corresponder às exigências e expectativas da escola regular. Para
se evitar a queda na cascata, na maioria das vezes sem volta, é preciso remar
contra a correnteza, ou seja, enfrentar os desafios da inclusão : o ensino de
baixa qualidade e o subsistema de ensino especial, desvinculadae justaposto ao
regular.Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um desafio que precisa
ser assumido por todos os educadores. É um compromisso inadiável das escolas,
pois a educação básica é um dos fatores do desenvolvimento econômico e social.
Trata-se de uma tarefa possível de ser realizada, mas é impossível de se
efetivar por meio dos modelos tradicionais de organização do sistema escolar.Se
hoje já podemos contar com uma Lei Educacional que propõe e viabiliza novas
alternativas para melhoria do ensino nas escolas, estas ainda estão longe, na
maioria dos casos, de se tornarem inclusivas, isto é, abertas a todos os
alunos, indistinta e incondicionalmente. O que existe em geral são projetos de
inclusão parcial, que não estão associados a mudanças de base nas escolas e que
continuam a atender aos alunos com deficiência em espaços escolares semi ou
totalmente segregados (classes especiais, salas de recurso, turmas de
aceleração, escolas especiais, os serviços de itinerância).As escolas que não
estão atendendo alunos com deficiência em suas turmas regulares se justificam,
na maioria das vezes pelo despreparo dos seus professores para esse fim.
Existem também as que não acreditam nos benefícios que esses alunos poderão
tirar da nova situação, especialmente os casos mais graves, pois não teriam
condições de acompanhar os avanços dos demais colegas e seriam ainda mais
marginalizados e discriminados do que nas classes e escolas especiais.Em ambas
as circunstâncias, o que fica evidenciado é a necessidade de se redefinir e de
se colocar em ação novas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam a
todos os alunos, o que, implica na atualização e desenvolvimento de conceitos e
em aplicações educacionais compatíveis com esse grande desafio.Muda então a
escola ou mudam os alunos, para se ajustarem às suas velhas exigências? Ensino
especializado em todas as crianças ou ensino especial para deficientes?
Professores que se aperfeiçoam para exercer suas funções, atendendo às
peculiaridades de todos os alunos, ou professores especializados para ensinar
aos que não aprendem e aos que não sabem ensinar?
Universidade Estadual de Campinas / Unicamp
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Reabilitação de Pessoas com Deficiência - LEPED/ FE/ Unicamp
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